sábado, 31 de julho de 2010

Quase Qualquer.

























Quase.
Quase todos os passos que dou aqui levam-me de encontro a algo imenso, incrível. Levaram-me a ver a baía de Tokyo à noite desde a Rainbow Bridge ou a estátua de Hachiko em Shibuya rodeada por largos milhares de pessoas. Lembro-me de ontem estar aqui, bem no centro de um dos mais movimentados pontos de encontro de Tokyo, olhar para cima para todos os ecrãs nos edifícios, vivos, animados por publicidades infindáveis. Lembro-me do som que milhares de vozes fazem; parece ruído branco, chuva ou água a cair de uma cascata. Parei e olhei para cima. Algo que gosto de fazer. Seja pelo hábito criado ou pelo que me por isso é dado, o fiz.

Tentei escutar algo ou pelo menos distanciar-me o suficiente para olhar para mim mesmo e apreciar a situação; é difícil para mim explicar, mas existem momentos em que tento sempre conter meu entusiasmo: penso nele como um qualquer curso de água que me leva, por vezes rio veloz por vezes ribeiro seco. Assim, imagino que para conseguir flutuar mais alto ou aproveitar uma maior onda tenho de construir, fazer existir, certas barreiras como represas onde deixo-o acumular, crescer dentro de mim. Por isso páro. Por essa sensação que depois me carrega mais longe e me faz apreciar mais além pois lembra-me da referência de onde parti.


Aproveito também esse tempo para engravar em mim mesmo o mais fundo possível tudo onde estou envolvido. Talvez seja por que me dá a sensação que dura mais assim, tenha mais significado, gratificação pessoal ou simplesmente necessidade de satisfazer os meus impulsos naturais de auto contemplação e ponderação. Contudo, saber que estou ali dentro daquela realidade, banhado pelas luzes, envolvido por um verão de sensações dá-me imensa pena. Sempre que páro de experimentar tudo instantâneamente e tento dar uma profundidade temporal transcrevendo tudo para dentro de mim apercebo-me que não tenho tempo, talento ou forma de fazê-lo. É como se minha alma fosse demasiado pequena ou frágil para conter tudo aquilo, tudo isto.
Mas é por pouco.
Por quase.
E é precisamente o resto desse "quase" que escrevo aqui: aquilo que consigo, que quero partilhar. Por esse quase qualquer.
Contudo, por vezes isto leva-me a criar uma certa inércia quanto a escrever neste blog, pois dá-lhe um sentimento de insignificância. Por mais que escreva não irei dar mais do que uma noção do que é estar aqui. Portanto, se falhar outra semana não se preocupem: apenas preciso de tempo para organizar toda uma debandada interior. Isso, ou não tenho fotos decentes para vos mostrar.
;)
FOTOS:
1-Monte Fuji
2- Tanabata Festival, num templo dentro de Tokyo.
3- Sumidagawa Hanabi Taikai, festival de fogo do rio Sumida
4-Shibuya
5- Ooedo Onsen, Tokyo, banhos termais japoneses

Concurso : Ganhe uma Canon


Já temos um tiro no porta aviões, não vou dizer o quê nem quem mas ainda faltam mais 4 ou 5.

domingo, 18 de julho de 2010

Acima das palavras
















Fuji san; sempre achei estranho que cada vez que ouvia um japonês dizer algo acerca do monte fuji este referia-se a ele como Fuji san, como se fosse uma pessoa. No momento em que subitamente um colosso aparece no nosso campo visual entendemos porquê.
Devo dizer que a personificação do monte Fuji é um understatment quando comparado com a presença que o mesmo tem em alguém. É incrivelmente alto (3776 metros) e de formato tão bonito que parece que foi desenhado. é também rodeado pelo Jyukail, ou Mar de Árvores. Um nome adequado, já que o horizonte presente nele dá a mesma sensação que olhar o mar imenso quando visto de cima. Esta floresta é incrivelmente mística, com enormes quantidades de histórias e cultura por trás, algumas não as melhores, visto ser o 2º lugar do mundo com mais suicídios.



Saímos de Tokyo eram 16.30, rumo à quinta estação na subida para Fuji san. Já acima das nuvens, era aqui que iríamos fazer os 1776 metros que faltavam para o cume. Mesmo no fim do por do sol conseguimos ver as nuvens abaixo a se incendiarem com rasgos de relâmpagos laranjas. Incrivelmente impressionante.

Começamos a subir às 19h; a ansiedade era alta à medida que investíamos pelo escuro adentro. O caminho começava a se erguer, inclinar acima como se soubesse de nossas intenções e tentasse nos impedir. A vista das luzes das cidades abaixo e seu reflexo nos lagos eram como uma mão em minhas costas, me empurrando. "Mais acima, quero ver de mais acima" pensava. Cada hora de subida permitia ver as luzes de um ângulo um bocadinho mais acima; fogos de artificio de verão explodem em diversos pontos da cidade.


Horas de subida depois, o maior problema revela-se. Um mar de gente, literalmente vários milhares de pessoas sobem conosco. De baixo é uma visão espectacular, ver uma serpente de luz de forma espiral a subir em direcção ao céu, mas nas últimas etapas mais inclinadas e de rocha escarpada causa engarrafamentos horríveis, ao ponto de dar um passo a cada 10 segundos. Isto comparado com a falta de sono, cansaço, falta de ar e inclinação acentuada levam a horas de fadiga mental, obrigando a pessoa a entrar numa quase tortura psicológica de todos estes factores.



Finalmente, depois de uma agonia vencida passo ante passo, chegamos ao topo. Não todos, apenas 8 dos 40, mas chegamos.


Neste momento passavam das 4 da manhã.


Apesar do frio terrível e de pagar 3 euros para ir à casa de banho, todos esperávamos com ansiedade o nascer do sol. algum tempo depois, ouvimos um tambor, e os primeiros raios de sol revelavam a visão que tinha impulsionado tanta gente a fazer tamanho sacrifício.


Mesmo se tentasse o meu melhor, não consigo sequer começar por descrever e tentar partilhar ou induzir de algum modo a experiência que é estar no topo do Fuji san e ver o nascer do sol. Puramente, acho que estamos demasiado alto, demasiado perto dos céus; acima das palavras.

O barulho do champagne a escorrer, as pessoas a chorar de felicidade e os sorrisos nas nossas caras não deixam espaço para erro: estávamos mesmo a brindar com champagne no topo do Fuji san.
..
..
A cratera´no topo é igualmente impressionante, demorando uma hora para dar a volta. Durante a descida pudemos apreciar tudo aquilo que durante a noite não nos apercebemos: o mar de árvores, os lagos, a cidade...tudo parecia tão distante, tão longe. Após as quase 4_30h de descida chegamos de volta à quinta estação.


O autocarro que tinha ido tão barulhento era agora um santuário completamente silencioso. Aquele breve sono até Tokyo foi um dos melhores que já dormi.


Até.


Concurso:
Ainda sem vencedores, devo relembrar para ver tentativas antigas para eliminar hipóteses. Again, ninguém paga por tentar e podem tentar as vezes que quiserem.

Fotos:
1- Durante a descida, cidade e um lago
2- Na cratera, no topo
3- Vista desde a 5 estaçao(já acima das nuvens) até ao topo.
4- vista desde o autocarro
5- Vista do por do sol desde a quinta estação.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tokyo(t)=C+ε^t











3 semanas.
Este domingo fará 3 semanas desde que me encontro em Tokyo. Algumas coisas mantém-se iguais; o calor, o meu analfabetismo, o trabalho...Mas já vi algumas centelhas de mudança.
Falaram-me uma vez de gente que largava tudo para ir procurar ouro; Por vezes ficavam dias sem encontrar nada, até que um dia talvez tivessem a sorte de vislumbrar uma leve cintilação entre suas mãos. Contudo sabem que aquela fugaz luz não significa mais do que um passo no longo caminho que escolheram, por isso pergunto-me: será que ficam incrivelmente felizes por passarem dias a trabalhar para aquilo que finalmente encontram, ou será que o peso que o tamanho do seu esforçoi futuro exerce sobre eles é tão grande que não conseguem levantar um sorriso?

Eu?
Eu fico feliz.
Fico feliz sempre que encontro algo assim, por mais pequeno que seja, lembrando-me que estou na direcção certa. O problema é que por vezes não tenho tempo para me aperceber desses pequenos fragmentos que brilham dentro do meu bolso. Mas de vez em quando, quando olho para dentro vejo que se acumularam pouco a pouco, paro e sorrio.
De vez em quando.
Só espero que quando o meu tempo aqui acabar tenha os bolsos pesados.


Tokyo é cada vez mais espectacular. Exponencialmente Espectacular, onde "ε" é a constante de espectacularidade universal e "C" o valor inicial de fascínio de cada individuo.



Amanhã vou ao Monte Fuji, ou Fuji-sama como eles dizem aqui, ver o nascer do sol.
Espero que no domingo já as publique.


Concurso:

Ainda não temos vencedores, o que acho estranho pois com tantas pistas que já dei esperava que já tivesse comprado a câmara.
Mas darei outra pista:
"...é como dizer:
"Tava andando na neve, e de repente surgiu-me a ideia da pergunta e da resposta;
e pista é:
"galinha"
"


Até.

domingo, 11 de julho de 2010

Andar no vazio.










Choque cultural.

Quantas vezes ouvi esta expressão antes de vir para cá. De facto, todos nós ouvimos a dada altura alguém a comentar: "...choque cultural...".Passa despercebido, invocando um conceito estranho do qual a maior parte de nós não digna a envolver em sua mente mais do que o superficial. O mesmo aconteceu comigo, até experimentar na pele o impacto de 2 toneladas de um.
Imaginem um corredor.

Um corredor rectilinio e de tecto alto, sem janelas, que vos leva exactamente 100 passos a atravessar. Todos os dias andamos de olhos fechados por esse corredor, e eventualmente o caminho é imprimido em nossa memória primordial, subconsciente, muscular quase. No 8395º dia do nosso caminho, ao andar pelo corredor, passo ante passo, passo ante passo, e sem qualquer outro tipo de aviso,




Encontramo-nos com uma parede.

Se conseguirem imaginar esta sensação, então podem imaginar o que é que "choque cultural" realmente quer dizer, e de como foi a sensação de saber que afinal tinha estado este tempo todo vendado, olhando para as tudo pela primeira vez.




Por propósitos de curiosidade, vou dar-vos alguns exemplos hoje.



Primeiro foi o calor: Tokyo encontra-se na estação da chuva, o que quer dizer duas coisas: humidades incriveis e claro, chuva. De facto, a parte da chuva nem é o problema; na sua maior parte, o céu apenas está nublado, além de que para mim toda a pequena dose de chuva é bem vinda com o calor que está. Toda a cidade é uma grande sauna, pavimentada com ar condicionado e ventoinhas que permitem algum tipo de conforto.


As pessoas seguem-se: dizer que os japonese são educados é o mesmo que dizer que o Cristiano Ronaldo dá uns toques. Para entrar no expresso do aeroporto para o centro, 3 japoneses com luvas carregam minhas malas cuidadosamente, e quando o autocarro parte fazem todos uma vénia pronunciada para as pessoas sentadas dentro do autocarro. O crime é quase inexistente: um colega francês do trabalho diz-me que perdeu a sua máquina e dois dias depois estava no mesmo sitio. No supermercado não existem barreiras que impessam as pessoas de sair, e o carrinhos não precisam de moeda. Crianças pequenas andam e brincam na rua sem problemas.

Não me lembro da última vez que vi crianças a brincar na rua tão descontraídamente, excepto na minha infância. Ninguém com quem falei até agora sequer viu um crime, droga ou sacou algo ilegal da net. Incrivelmente humildes e simpáticos, num estado de quase-inocência, disciplina e interesse; mas de um inglês terrível. Claro que já encontrei gente com um inglês perfeito, mas é raro.



É-me dificil saber prever os comportamentos de japoneses, mas todos os dias tenho surpresas agradáveis com eles. Por vezes sinto-me como numa variante da Máquina do tempo de Wells, ou algo assim, onde fui para a um lugar escondido onde nada de mau acontece e as pessoas são todas correctas umas para as outras. É claro que sei que isto não é totalmente verdade, mas é um pouco, e só um pouco, apenas um pouco já basta por vezes.





Comunicação.

O meu maior problema aqui, e acreditem que não existe um dia em que não receba vários elogios pelo meu Japonês de toda a gente, mesmo da mesma pessoa multiplas vezes; pensei que estaria mal preparado, mas a verdade é que depois de conhecer o resto dos outros estagiários aqui as coisas podiam estar piores. A larga maioria não diz mais de obrigado e bom dia, e só isso já é difícil. De facto, apenas um belga que estuda japonês na escola muitos anos e já teve muitas vezes aqui é que fala algo de jeito, de resto apenas um par de palavras. Dái que os japoneses fiquem incrivelmente impressionados comigo e se espantem quando começo a falar. Na verdade tenho o vocabulário de uma criança de 1, 1,5 anos, e penso que apenas estão a ser educados, mas não me importo, aceito um elogio de onde vier. Além disso, entre o meu japonês e o inglês deles, comunicamos. A parte disto, sou um completo analfabeto.



O supermercado parece algo de um livro de ficção científica, com artigos que bem poderiam ser de uma galáxia, que precisaria de imensos conhecimentos de xenolinguistica apra compreender. Operar a máquina de lavar e secar demorou um dia de testes; o computador vai por instinto, e esperar que a janela que aparece com o ponto de exclamação quira dizer "GRAVAR (Y) (N)" em vez de "APAGAR (Y) (N) .






Progresso é muito, muito lento.

Mas presente.










Até.

Tokyo













Nunca pensei que seria assim.

Enquanto escrevo, o ar condicionado retira de minha minha memória o manto de calor que abafa Tokyo estes dias; é agora o meu segundo domingo aqui, e algumas coisas, certos algos começam finalmente a se fazer entender; como se num quadro tivesse apenas um conjunto de pontos dispersos, que, assim tão lentamente, migram para seus destinos e só agora me permite vislumbrar um qualquer realce da imagem.

Tokyo é, literalmente, um mundo à parte. Tokyo é como uma colecção espectacular de estímulos como som e luz, com proporções das quais apenas tinha imaginado.

Basicamente, Tokyo é, na sua essência, Tudo aquilo que alguém imagina.

Tudo.

Não existe nada exagerado, nada descabido, nada descuidado, como se alguém decidisse fazer coexistir toda uma multiplicidade de realidades, cuidadosamente separadas por estações de comboio. Aqui, o Tudo é mesmo possível de encontrar, não importa o que se está à procura, o que leva a algumas situações engraçadas de serendipity.


Não posso realmente dizer-vos como Tokyo é, precisamente porque esta é como interpretar um quadro ou ler um poema: todos terão uma interpretação diferente, por mais fraccionaria que seja; e como Tokyo possui tanta coisa, é seguro fazer isto e esperar que um dia que se encontrem por aqui reconheçam algo...


De qualquer modo, tenho feito um diário regular um pouco mais extenso onde retrato todos os aspectos do meu dia à dia, desde batalhas no supermercado a quaisquer outros problemas de transportes e comunicação derivados da minha recentemente encontrada analfabetização.

Deixo-vos com um par de fotos. Agora que tenho net, vou tentar por algo todos os dias.


Um aparte que me surpreendeu foi a falta de tentativas do nosso pequeno concurso: não pagam nada para tentar! Talvez não tenha ficado bem claro, erro meu. De qualquer modo, lamento informar que ainda não temos uma resposta correcta. O que significa que aagora está mais fácil pois já foram eliminadas certas hipóteses.



Até.