domingo, 28 de novembro de 2010

Chamo-o de Saudade.
































Oito da manhã.


Tinha conseguido apanhar o comboio expresso mesmo à justa para estar em Hakone pelas 10h, esperando estar ao pé do lago Ashi pelo meio dia. Hakone situa-se ao oeste de Tokyo, aninhada entre montes e riachos e com o lago Ashi no centro; nada mais que o espelho no qual o Monte Fuji se contempla.
Chegamos na primeira estação e o cheirinho de pães e bolinhos frescos obriga-nos a parar para comer algo. De dentro do café, virado para a janela observo como os montes nos envolvem com uma sensação familiar para mim; um sentimento de serem alguém que se levanta, observando o redor, vigilante. Sinto-me cuidado assim. É tranquilizador, e ao mesmo tempo o manto dourado real e vermelho que tudo cobre revela a majestade de um Outono cada vez mais profundo. Ergue-se de mim um pequeno suspiro, e permito-me um pouco de entusiamo infantil que me desenha um sorriso sem razão que sinto subir lentamente.

Apanhamos um autocarro até ao lago que demorou mais do que pensava, tanto que pensava que estavamos no errado, indo cada vez mais longe através dos montes. Mas felizmente chegamos junto ao lago por volta das 12. Mal chegamos um trovão solitário fez-se sentir. Estava sol, mas começava a ficar forrado. Felizmente ainda conseguimos passear um pouco ao redor do lago, ver o templo e o portão vermelho com palavras de paz seladas que se ergue monumentalmente do lago. Antes, antes daquilo que o trovão anunciava. Granizo. Pequenas pedritas misturadas com a chuva, sem grandes problemas excepto que nos molhou todos. Gelados e de pés empapados decidimos procurar a única coisa que podia nos salvar: um onsen, banhos nascentes naturais de água aquecida geotérmicamente, aperfeiçoadas até a perfeição pelos japoneses em piscinas naturais, qual jacuzi rochoso, e presentes predominantemente em em regiões montanhosas. Felizmente conseguimos receber (leia-se: perceber) algumas indicações e apanhamos o autocarro de volta. Saimos na paragem indicada. O frio roubava todo o espaço de minha mente. Olhei em volta. À medida que o autocarro se afastava e o barulho desvanecia, o silêncio revelava que estavamos literalmente no meio dos montes sem nada à vista. Até que reparo numa fumaça que se elevava por debaixo das árvores mais abaixo um pouco, no meio do monte. Seguimos por um caminho e chegamos ao rotenburo, um onsen ao ar livre.

"Perfeição".
Entrar naquela água super quente depois de tanto frio, no meio de piscinas naturais de pedras no meio da montanha, rodeado de árvores douradas e vermelhas que nos envolviam, e começar a chover pedrinhas de granizo enquanto só me afundo deixando só a cabeça de fora...

Agora chamo-o de saudade.

domingo, 14 de novembro de 2010

Sorriso torcido























Tokyo tem todo um ritmo diferente, que se deixa deixar de ser estranho. Dentro de meu quarto, na zona sul de Tokyo perto do rio Tama, sinto a chuva de ontem que ainda persiste em se fazer sentir.
Saio.
Sigo seguindo pela noite a sensação surda mas presente das batidas do coração de Tokyo que ressoam em mim; uma reverberação que serve de indício para um espaço dentro de mim que permite esse eco.

Estou num comboio, num comboio como qualquer outro, num comboio que me parece sempre o mesmo, não sei bem porquê. Mas quando, por cansaço, minha fronte encontra o frio do vidro da janela vejo suas veias de luz e cor que parecem acelerar mais e mais e mais, rasgando furiosamente o escuro numa expansão de sua multiplicidade desenfreada. Tanto o algo como o tudo parecem crescer lá fora, pessoas e luz e movimento e som e de repente
apercebo-me.
Que ainda é de dia aqui.

Quando volto e olho através da mesma janela vejo agora as luzes a desaparecerem numa calma serena e maré de silêncio crescente, até que eventualmente me apercebo no escuro que um par de olhos familiares encontra os meus. E a razão para o sorriso torcido que esse alguém exibe para mim é simples: sexta feira tive a minha apresentação final, recebi o certificado dourado e meu último dia de trabalho é na segunda!:D:D:D:D :D e também ouvi finalmente o que secretamente queria ouvir desde que cheguei aqui :D:D
Um enorme factor social é a contemplação da mudança da folhagem, e algumas florestas do Japão estão repletas da Red Mapple, a árvore do Canadá, que faz para espectáculos incríveis que rivalizam em popularidade com as Sakura. Ver uma montanha toda vermelha e laranja tem algo que se diga, mas infelizmente é só mais para a frente que fica totalmente, e como fui ao Mt. Takao ( pertinho da fronteira oeste de Tokyo, da para ver das fotos) semana passada não tava totalmente, mas deu para me fazer juntar aos suspiros de admiração colectivos quando uma chuva dourada de folhas começou a descer por causa de um vento nas árvores que estavam por cima de nós....pff. incrível.
E fui à Torre de Tokyo, 333m. Dá para ver a Rainbow Brigde ao fundo à esquerda.

Lembrei de outras 3 coisas engraçadas que vi por cá:

Bastões para cegos com uma rodinha na ponta (genial....)


Limpadores de óculos tipo recipiente com água ultrasónicos na rua em frente a lojas para as pessoas mergulharem lá pa limpar


Temporizadores para os semáforos dos peões. tem umas barrinhas de luz que vão acabando ao lado dos símbolos de andar e nao andar, assim a pessoa não tem que ficar desesperada a pensar " mas afinal quanto tempo já passou?" ou "Acho que esta (insira palavra aqui) está estragada..." *vá lá, quem nunca pensou isto? :D*